Romance


Hoje é sábado, e o dia terá muitas horas ociosas, particularmente não gosto disso, pois começo a pensar, penso na vida e em todas as coisas que eu deveria ter feito.  Pensar é meu ponto forte, então talvez agir seja meu ponto fraco. Quando me canso de brigar com meus pensamentos, me levanto da cama, só um louco acorda no sábado as 7 da manhã, mas para quem pensa muito, essa hora já é tarde. Tomo meu café, abro o notebook, no feed de noticias da rede social algo me chama atenção, aquele rapaz que sempre tento puxar assunto na esperança de que um dia ele note minha quase imperceptível tentativa de flertar, agora arranjou uma namorada. Novamente, pensei demais, esperei demais, perdi outra oportunidade. Para que afinal fui abrir a rede social? Não precisava destruir meu sábado assim! Vou para a varanda, o tempo está fresco, nublado, sento-me numa cadeira de fios, abro um livro. Afinal, talvez eu seja o tipo de mulher que prefere ler um romance ao invés de viver um.

Esta década é marcada pelo avanço da tecnologia, e acima de tudo de novos tipos de relacionamentos entre as pessoas, o relacionamento teve de se ajustar a vida e correria moderna, onde todos estudam, trabalham e ninguém tem tempo. Hoje em dia os relacionamentos buscam mais individualidade, respeito e alegria, não mais aquela dependência amorosa.

Aquele pensamento de que só sermos ser felizes caso estejamos com outra pessoa esta se extinguindo, nossa felicidade esta se tornando cada dia mais independente, não existe mais a outra metade da laranja, e sim um complemento para esta laranja inteira. Estamos trocando o amor por parceria. 

Não temos mais medo de ficarmos sozinhos, estamos aprendendo a conviver com nós mesmos, somos individualistas, mas não significa que precisamos ser egoístas. A pessoa individualista sabe se divertir sozinha e com um companheiro, sabe viver sozinha e sabe dividir, acredito que isso seja uma evolução no processo de nos relacionarmos. Pois quanto mais apto uma pessoa é para viver sozinha, melhor ela será num relacionamento onde não há dependência emocional. 

A solidão é boa, se conhecer é bom, já perdi as contas de quantas vezes fui ao cinema sozinha, e já não recebi mais olhares curiosos, já almocei sozinha num restaurante, e isso também foi considerado normal. Hoje sou uma mulher livre, e aprecio minha liberdade.

Eu preciso da minha solidão, preciso da minha meditação, preciso andar pelas ruas sem companhia, sem conversas, escutando música e meu coração. Enquanto estou sozinha me auto-avalio, penso em erros cometidos, lições aprendidas, posso melhorar como pessoa. 

Então não me transborde de companhia, da mesma forma que preciso de pessoas, também preciso ficar, nem que seja por um breve momento...

...só.

Por Kisian Costa Guimarães

O tempo passa


Você esta vivendo sua vida em seu ritmo, e quando percebe, ja tem quase 30, mas o que isso significa? Quando você olha para trás esta satisfeita? Gostaria de mudar algo? Ainda é tempo de mudar?

Acho que todas as pessoas ficam com um frio no estomago ao estar para fazer 30, enquanto você tem 29 anos e perguntam sua idade, você alegremente responde "Aaah tenho 20 e poucos", mas chegando nos 30, não tem jeito, você entrou numa outra etapa da sua vida. 

Essa é a idade conhecida por você ter tempo, dinheiro, e disposição máxima para curtir a vida, também é tempo de fazer mudanças para ter um futuro melhor, mudar de cidade? casar? planejar uma grande viagem? 

Nessa idade você ou a maioria dos seus amigos já encontraram um companheiro, para aqueles que ainda não encontraram, sugiro que se divirtam na busca. Afinal, você já tem segurança para jogar um bom flerte, e tem experiência o suficiente para fazer o flerte funcionar, basta achar o alvo ideal.

Acho que outra coisa boa, é saber quem são seus verdadeiros amigos, colegas de escola, de faculdade e amigos do trabalho podem não durar para sempre, mas se você tem um deles até hoje, ai sim, esse vai com você pelo resto da sua vida.

Eu acreditava que quando chegasse aos 30, ja estaria casada, com filhos e no auge da minha carreira, mas não acho que minha vida tenha tomado uma direção errada. Tenho orgulho das escolhas que fiz.
Sou uma solteirona de 26 anos, e que não esta a procura de um amor para a vida toda, procuro viver feliz, e se um dia eu vier me apaixonar vai ser por consequência.

A vida é um ciclo, devemos aproveitar cada etapa da nossa vida ao máximo, todas as fases da vida tem seus problemas e seus benefícios, então, que venha os trinta, mas enquanto isso me divirto com meus "20 e poucos anos" hahahaha.

Um beijo
Até mais

Cosplay Amor Doce








Uma tarde chuvosa


O dia ja estava em seu crepúsculo, eu voltava para casa depois de um longo dia no trabalho, mal coloco os pés para fora e a chuva começa a cair, não era uma simples chuva de verão, era mais insistente e inquietante. Abro meu guarda-chuvas, pessoas ao meu redor correm para se esconder, afinal ninguém quer correr o risco de amanhecer doente, amanhã é dia útil, e todos eles precisarão estar saudáveis para mais uma rotina tediosa. Em poucos minutos já não se vê ninguém na rua, exceto um gato, que tenta se esconder numa tentativa frustrada de não se molhar. A expectativa de chegar em casa, entrar no meu quarto tomar um café e ler um livro aumenta, lá é meu templo, lá é minha zona de conforto, quando eu entrar no meu quarto vou esquecer todos os problemas do meu dia. Aumento o ritmo dos meus passos, mas estava ventando bastante, e tenho que me concentrar para o vento não virar meu guarda-chuva do avesso, molhei meu vestido, perdi meu chapéu, nessa hora nem me importava mais, pois estava a uma quadra da minha casa e aquele era só um chapéu velho. Um jovem rapaz me chama, olhei para traz assustada, não me lembrava de ter alguém naquela rua, de onde ele surgiu? Ele gentilmente me devolve meu chapéu e sorri timidamente. Me lembro que ele estava encharcado, mas não parecia se importar, deve ser daquelas pessoas estranhas e introvertidas que apreciam a chuva ao invés de fugir dela. Quero falar com ele, quero perguntar o que faz na chuva, qual seu nome, quero ter uma conversa casual até nos tornarmos íntimos e começarmos a falar sobre nosso dia. Mas, ao invés disso, agradeci, e cada um de nós seguiu seu próprio caminho. Agora aqui estou novamente, feliz, no meu quarto, sozinha, abro o livro, agora sim começa minha verdadeira historia de amor.

Por: Kisian Costa Guimarães

A Nova Geração de Homens

Li esta semana, e estou postando para vocês:

A nova geração de homens com fraldas não é uma categoria de seres, mas um estado de carência e fragilidade no qual qualquer um pode cair.

É por isso que minha motivação não é ridicularizar tais homens, mas apontar os problemas que surgem quando nos posicionamos desse modo na vida. Escrevo, pois, do mesmo lado dos fracotes, não me opondo, não criticando por fora. Estamos todos no mesmo time e desejamos todos uma vida livre de mimos e carências, não é mesmo?
Destaco 8 comportamentos, 8 tipos de fraldas, que podem ser encontrados na nova geração de homens mimados. Comento cada um deles com o desejo de que todos nós possamos superar tais fixações e cultivar uma mente livre, um corpo potente, uma vida generosa.
Qual a sua?

Eles não comem mamão

Durante um almoço com a equipe de trabalho, descobri que o estagiário não gosta de suco de laranja com beterraba. Não gosta e não bebe. Em outro almoço, enquanto eu me enchia de mamão, me surpreendi com um: “Hum… Mamão eu nunca comi”. Sério, isto deveria ser diagnosticado e tratado como doença. Sou do tempo em que todos bebíamos o mesmo suco em família. Nada de “O que você quer?”, “Ah, eu quero Coca zero”, “E você?”, “Água de coco”, “E…”, “Ai, não, não quero nada”.
Não é necessário abandonar as preferências, claro, apenas não ser tão refém de “gosto” e “não gosto”. Eu não gosto muito de grão de bico na salada, por exemplo, mas como. Repito uma brincadeira que fiz em outro texto: “Toda mulher deveria desconfiar do desempenho sexual de um homem que não come de tudo”.
Créditos: Fábio Rodrigues (@iodris)

Eles sentem “nojinho” no sexo

Já vi homens contarem que brocham com cheiros estranhos na cama ou que não transam com mulheres menstruadas. Ora, as mulheres nos lambem quando estamos suados, levam por trás, chupam, engolem… e nós queremos encontrar perfume francês debaixo da calcinha?

Eles se masturbam e gozam sozinhos

Imagine Chuck Norris, Gandhi ou Barack Obama vendo um filme pornô e melecando a mão. Ceninha no mínimo estranha, não é mesmo? O que é bastante saudável na adolescência deveria ganhar outro enfoque quando viramos homens. Qual o sentido em ejacular sozinho um dia antes de encontrar sua namorada? Por que desperdiçar na tela do computador a potência que você poderia usar com uma mulher? O cara ejacula o tempo inteiro e depois reclama que não consegue prolongar a penetração com a namorada!
O homem que goza sozinho quase todo dia, qual mente ele está cultivando? O que você acha que ele vai desejar quando for para a cama com uma mulher? Se temos o hábito de ficar nos agradando, focando apenas em nossas sensações, é isso que vamos continuar fazendo diante de uma mulher pelada.
Se quer mimo, peça para sua mãe transar com você.
“Vem cá, mamãe vai fazer um striptease pra você”

Eles não limpam o banheiro

Um homem só consegue parar de fazer cagada na vida depois que aprende a limpar sua privada. Ele suja, a mãe limpa. Ele dorme, a empregada arruma a cama. Que tipo de homem é esse? Enquanto tratarmos o mundo como um hotel, seremos hóspedes.
Para além da privada, o mundo. Aquele que joga lixo no chão deixa seu mundo menor, exclui a rua, exclui o banheiro público, se distancia de tudo o que poderia incorporar à sua moradia como um cidadão do planeta. É por isso que os homens mimados só olham para o próprio umbigo: ali reside seu mundo, a única coisa digna de limpeza.

Eles não sabem o que querem da vida

Fato: se o homem não sabe o que fazer com sua vida, não saberá o que fazer com sua mulher. Além dos adolescentes que perdem tempo com distrações e jovens que patinam entre mil opções existenciais (alvos fáceis para essa crítica), há outros casos mais sutis, já que nem sempre ter dinheiro, poder, casa e família significa ter direcionamento na vida.
A nova geração de homens mimados pode ser representada pela imagem de moleques emos que não comem agrião ou por executivos dentro de uma Mercedes-Benz que nunca chegam a lugar algum. Ainda que eles consigam tirar muito da vida, pouco tem a oferecer. Como afirma Alan Wallace, nossa felicidade e a sensação de ter uma vida com sentido não é proporcional ao que extraímos do mundo e das pessoas, mas àquilo que trazemos ao mundo e às pessoas. Não é por acaso que encontramos muitos homens bem sucedidos completamente infelizes e impotentes, sem saber o que mais fazer com a vida (e com a mulher na cama).

Eles fazem o que têm vontade

O homem mimado se move com a certeza de que sempre há alguém olhando por ele, pronto para protegê-lo, socorrê-lo, salvá-lo, resgatá-lo e levá-lo ao hospital. A sensação de proteção divina e a confiança em um resgate paternal tiram sua responsabilidade: ele pode fazer qualquer coisa pois tudo acabará bem. E assim surgem os casos de colegiais estupradas, índios queimados, carros batidos, grávidas abandonadas, filhos abortados… O pai paga a faculdade para que o filho possa matar aula e beber.
O homem muda de vida quando deixa de fazer o que tem vontade e começa a fazer o que tem de ser feito. Não é à toa que a maioria dos caras que conheço só viraram homem quando tiveram um filho. Para fazê-los dormir, acabamos saindo do berço! Com outro ser à vista, vamos além de nossos impulsos e desejos de satisfação imediata. Desenvolvemos generosidade, talvez a maior qualidade de um homem guerreiro.

Eles não sabem o nome dos porteiros do prédio

O que eles estão fazendo? Você tem mesmo interesse?
Autocentrados, os meninos mimados não tem interesse por aquilo que não pertence ao seu universo imediato. Lembro de um cara que me perguntou o que eu faria no fim de semana, ao que respondi falando de meditação e TaKeTiNa, uma técnica que usa o ritmo para transformar a mente. Se eu tivesse falado que passaria o tempo todo dormindo, teria dado mais papo. Ele simplesmente ignorou, ainda que nunca tivesse meditado nem conhecesse TaKeTiNa.
O homem mimado perdeu a curiosidade que faz nossos olhos brilhar. Em seu prédio, seis porteiros se revezam e ele não sabe o nome de nenhum. A melhor amiga de sua irmã, o tema da pós-graduação do seu colega de trabalho, a viagem importantíssima que seu primo fará… Ele esqueceu dentro de sua apatia distraída. Quando você o encontra, ele sempre tem algo a falar e dificilmente oferece um espaço de autêntica escuta.

Eles buscam conforto

Mesmo depois de começar a morar sozinho e não mais depender financeiramente de meus pais, percebi o quanto ainda eu mesmo me mimava. Comprava frutas na feira para a ex-namorada, pagava as contas, limpava o banheiro, mas ainda assim dormia até me atrasar e enrolava o máximo possível quando era preciso fazer tarefas chatas na empresa ou em casa.
Nossos ancestrais caçavam animais, passavam frio, viviam à beira da morte. Nós pedimos pizza, usamos edredons e andamos de elevador com ar condicionado. Concordo que não dá mais para sair com um porrete para caçar antílopes, mas é preciso resgatar alguns comportamentos que ativam a energia masculina do destemor. Podemos começar com pequenas coisas como às vezes não fugir tanto do frio com mil roupas ou suportar o calor sem ficar tão dependente de ventiladores e ar condicionado.
O conforto nos entorpece. Viver embaixo do edredon nos deixa sonolentos em vez de disponíveis, anestesiados em vez de atentos. É por isso que admiro mestres de meditação que, mesmo com toda a possibilidade de viver uma vida confortável, escolhem condições desafiantes como dormir no chão numa esteira de meditação em uma casa sem energia elétrica ou ficar imóvel com água congelante batendo na cabeça durante a meditação takigyo.
Takigyo: mestre budista medita em uma cachoeira (Templo Oiwasan Nissekiji em Toyama, Japão)

Enfim, como salvar essa geração?

Basta que cada homem mimado comece a se observar para perceber traços de irritabilidade, ansiedade, impulsividade, reclamação e autocentramento. Em vez de trazer o conforto e o prazer que esperamos, os mimos causam aflições mentais e corporais. Sofremos mais, adoecemos mais. Assim que percebemos o problema, começamos a mudar por puro instinto de sobrevivência.
Se você namora um homem que manifesta algum dos comportamentos acima, não ceda aos seus mimos, dificulte um pouco as coisas. Se você é amigo de um cara mimado, desafie-o, convide-o para algo que ele não domina: mergulho, rafting, montanhismo, poker, meditação ou uma noite de salsa.
Você pode tentar terapia cognitivo-comportamental, mas há meios mais simples e baratos de deixar de ser moleque de prédio. Como o mimo não é uma patologia biológica ou um distúrbio psicológico por excelência, mas um comportamento negativo (sintoma ou não de um problema maior), vou propor um método simples de cura. Nada muito sério ou científico: para quem não lava a privada, compre água sanitária e coloque AC/DC. Simples assim. Contemple sua própria vida, invoque desafios e elimine os seus mimos.
No próximo almoço, encha o prato com tudo o que normalmente não escolheria e coma com gosto. Supere a aversão a cheiros ruins, evite ejacular quando não tiver uma mulher na sua frente, pergunte o nome do porteiro, olhe o caixa nos olhos quando desejar “Um bom fim de semana pra você”, beba menos, faça alguma prática que lhe prive de todo conforto por algum tempo (seja uma vision quest ou um retiro de meditação), seja curioso em relação à vida de outras pessoas, tome banho gelado e aceite mais o que a vida tiver pra hoje.
E você? Que outros comportamentos observa em seus amigos mimados?       
Gustavo Gitti

Professor de TaKeTiNa, autor do Não2Não1, colunista da revista Vida Simples e coordenador do lugar (ex-Cabana). Interessado na transformação causada pelo ritmo e pelo silêncio. | www.gustavogitti.com

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Como se sente uma mulher por Claúdia Regina



Os homens não sabem o quanto são sortudos por não se preocuparem com um décimo das coisas que preocuparia uma mulher. Segue relato de Claúdia Regina, um artigo li e achei muito interessante.

Do you know what it feels like for a girl?
Do you know what it feels like in this world?”

Madonna
Aconteceu ontem. Saio do aeroporto. Em uma caminhada de dez metros, só vejo homens. Taxistas do lado de fora dos carros conversando. Funcionários com camisetas “posso ajudar?”. Um homem engravatado com sua malinha e celular na mão. Homens diversos, espalhados por dez metros de caminho. Ao andar esses dez metros, me sinto como uma gazela passeando por entre leões. Sou olhada por todos. Medida. Analisada. Meu corpo, minha bunda, meus peitos, meu cabelo, meu sapato, minha barriga. Estão todos olhando.
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Aconteceu quando eu tinha treze anos. Praticava um esporte quase todos os dias. Saía do centro de treinamento e andava cerca de duas quadras para o ponto de ônibus, às seis da tarde. Andava pela calçada quase vazia ao lado de uma grande rodovia. Dessas caminhadas, me recordo dos primeiros momentos memoráveis desta violência urbana. Carros que passavam mais devagar do meu lado e, lá de dentro, eu só ouvia uma voz masculina: “gostosa!”. Homens sozinhos que cruzavam a calçada, olhavam para trás e suspiravam: “que delícia.” Eu tinha treze anos. Usava calça comprida, tênis e camiseta.
Agora, multiplique isso por todos os dias da minha vida.
Sei que para homens é difícil entender como isso pode ser violência. Nós mesmas, mulheres, nos acostumamos e deixamos pra lá. Nós nos acostumamos para conseguir viver o dia a dia.
Esses dias, estava sentada na praia vendo o mar, e dele saiu uma moça. Passou por um rapaz que disse algo. Ela só saiu de perto e veio na minha direção. Dei boa noite, ela falou que a água estava uma delícia, e conversamos um pouco. Perguntei se o cara havia lhe falado alguma besteira. Ela disse, “falou, mas a gente tá tão acostumada, né?, começa a ignorar automaticamente”.
O privilégio é invisível. Para o homem, só é possível ver o privilégio se houver empatia. Tente imaginar um mundo onde, por cinco mil anos, todos os homens foram subjugados, violentados, assassinados, podados, controlados. Tente imaginar um mundo onde, por cinco mil anos, só mulheres foram cientistas, físicas, chefes de polícia, matemáticas, astronautas, médicas, advogadas, atrizes, generais. Tente imaginar um mundo onde, por cinco mil anos, nenhum representante do seu gênero esteve em destaque, na televisão, no teatro, no cinema, nas artes. Na escola, você aprende sobre a história feita pelas mulheres, a ciência feita pelas mulheres, o mundo feito pelas mulheres.
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No seu texto “Um teto todo seu”, Virgínia Woolf descreve por que seria impossível para uma hipotética irmã de Shakespeare escrever de forma genial como ele. Woolf diz:
“quando lemos sobre uma bruxa sendo queimada, uma mulher possuída por demônios, uma mulher sábia vendendo ervas… acho que estamos olhando para uma escritora perdida, uma poeta anulada.”
Desde o início do patriarcado, há cinco mil anos, as mulheres não tiveram liberdade suficiente para serem cientistas ou artistas. Woolf explica:
“liberdade intelectual depende de coisas materiais. … E mulheres foram sempre pobres, não por duzentos anos, somente, mas desde o início dos tempos.”
Esse argumento não serve somente para mulheres: negros, pobres e outras minorias não poderiam ser geniais poetas pois, para isso, é necessário liberdade material.
(Para uma análise mais completa, recomendo: “Um teto todo seu” de Virgínia Woolf: A produção intelectual e as condições materiais das mulheres.)
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Embora o mundo esteja em processo de mudança, ainda existem menores oportunidades e reconhecimento para mulheres e minorias exercerem qualquer ocupação intelectual. Leitores de uma página do facebook sobre ciências ainda supõem que o autor seja homem e comentaristas de televisão não consideram manifestações culturais que vêm da favela como cultura de verdade.
É verdade: hoje, a vida é muito melhor, principalmente para a mulher ocidental como eu. Mas, mesmo sendo uma mulher livre e bem-sucedida vivendo em uma metrópole ocidental, ainda sinto na pele as consequências destes cinco mil anos de opressão. E, se você quiser ver essa opressão, não precisa ir nos livros de história. É só ligar a televisão:
Rio de Janeiro, 2013. Um casal é sequestrado em uma van. As sequestradoras colocaram um strap-on sujo, fedido de merda e mofo, e estupraram o rapaz. Todas elas, uma a uma, enfiavam aquela pica enorme no cu do moço, sem camisinha e sem lubrificante. A namorada, coitada, tentou fazer algo mas foi presa e levou chutes e socos.
Ao ver esta notícia, você se coloca no lugar da vítima (que sofreu uma das piores violências físicas e psicológicas existentes) ou no lugar de quem assistiu? Naturalmente troquei os gêneros: a violência real aconteceu com uma mulher.
Quantas violências eu sofro só por ser mulher?
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Na infância, fui impedida de ser escoteira pois isso não era coisa de menina. Fui estuprada aos oito anos. (Eu e pelo menos dois terços das mulheres que conheço e que você conhece sofreram um estupro e provavelmente não contaram para ninguém.) Sofri a pré-adolescência inteira por não me comportar como moça. Por não ter peitos. Por não ter cabelos longos e lisos. Desde sempre tive minha sexualidade reprimida pela família, pela sociedade, pela mídia. Qualquer coisa que eu pisasse na bola seria motivo para ser chamada de vadia. Num dos primeiros empregos, escutei que mulheres não trabalham tão bem porque são muito emocionais e têm TPM. Em um outro emprego, minha chefe disse que meu cabelo estava feio e pagou salão para eu ir fazer escova e ficar mais apresentável pros clientes. Decidi que não quero ser escrava da depilação e sou olhada diariamente com nojo quando ando de shorts ou blusinha sem mangas. Já usei muita maquiagem, só porque a televisão e os outdoors mostram mulheres maquiadas, e portanto é muito comum nos sentirmos feias de cara limpa. Você, homem, sabe o que é maquiagem? Tem um produto para deixar a pele homogêna, um pra disfarçar olheiras, outro para disfarçar manchas, outro para deixar a bochecha corada, outro para destacar a sobrancelha, outro para destacar os cílios, outro para colorir as pálpebras, outro para colorir os lábios. Quantas vezes você passou tantos produtos na sua cara só porque seu chefe ou seu primeiro encontro vai te achar feio de cara limpa? Quando estou no metrô preciso procurar um cantinho seguro para evitar que alguém fique se roçando em mim. Você faz isso? Quando vou em reuniões de família, me perguntam por que estou tão magra, e o que fiz com o cabelo e quem estou namorando. Para o meu primo, perguntam o que ele está estudando e no que está trabalhando. Na televisão, 90% das propagandas me denigrem. Quase nenhum filme me representa ou passa no teste de Bechdel. Todas as mulheres são mostradas com roupas sexy, mesmo as super heroínas que deveriam estar usando uma roupa confortável para a batalha. As revistas me ensinam que o meu objetivo na cama é agradar o meu homem. Enquanto você, menino, comparava o seu pau com o dos amiguinhos, eu, menina, era ensinada que se masturbar é muito feio e que se eu usar uma saia curta não estou me dando o respeito. Quanto tempo demorei para me desfazer da repressão sexual e virar uma mulher que adora transar? Quanto tempo demorei para me soltar na cama e conseguir gozar, enquanto várias das minhas colegas continuam se preocupando se o parceiro está vendo a celulite ou a dobrinha da cintura e, por isso, não conseguem chegar ao gozo? Quanto tempo demorei para conseguir olhar para um pau e transar de luz acesa? Quantas vezes escutei, no trânsito, um “tinha que ser mulher”? Quantas vezes você fechou alguém e escutou “tinha que ser homem”? Tudo isso para, no fim do dia, ir jantar no restaurante e não receber a conta quando ela foi pedida pois há cinco mil anos sou considerada incapaz. E tudo isso, porra, para escutar que estou exagerando e que não existe mais machismo.
Isso é um resumo muito pequeno do que eu sofro ou corro o risco de sofrer todo dia. Eu, mulher branca, hetero, classe média. A negra sofre mais que eu. A pobre sofre mais que eu. A oriental sofre mais que eu. Mas todas nós sofremos do mesmo mal: nenhum país do mundo trata suas mulheres tão bem quanto seus homens. Nenhum. Nem a Suécia, nem a Holanda, nem a Islândia! Em todo o mundo “civilizado” sofremos violência, temos menos acesso à educação, ao trabalho ou à política.
Em todo o mundo, somos ainda as irmãs de Shakespeare.
* * *
E você, leitor homem? Quando é abordado de forma hostil por um estranho na rua, pensa “por favor, não leve meu celular” ou “por favor, não me estupre”?
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Fotos: autorretratos por Claudia Regina.
Claudia Regina

Largadora por vocação. Largou carreira, largou faculdade, largou Curitiba. Hoje mora no Rio mas quica pelo mundo, fotografando, tomando sopa e cochilando. Autora do blog Dicas de Fotografiafotógrafa e viajante.